quinta-feira, 16 de julho de 2009

Minha cidade.


Esta cidade antiga, atracada no passado, num tempo hoje inexistente, a beira de um cais abandonado, um velho e enorme navio fantasma, gemendo com o esfolar do vento, enferrujando a carcaça despedaçada ao sabor do mar e o bafo corrosivo da maresia se espalhando e tomando contas das ruas, fazendo muito mal para esse lugar.

Esta cidade é muito velha e cheia de loucos, que dançam nos pátios, bebem um trago, fumam o goia dos outros e somem como por encanto, mas sempre voltam como uma lembrança das vergonhas, dos fantasmas pavorosos, dos sonhos irrealizados.

Esta cidade arcaica e decadente, escavando a terra lamacenta com as próprias unhas em busca de antigas glórias e histórias mau contadas, de brasões desbotados, sobrenomes desossados, velhas fotos de família em seus casarões transformados em casas de recepções e espaço de convivência.

Uma cidade sitiada pelas águas, dos rios cor de cobre, do mar que nos morde, nos faz em pedaços e reclama o seu lugar na varanda dos edifícios; pelas chuvas de julho que não mentem, nem escondem nada; é quando todas as águas se juntam, quando as ondas esbravejam contra as pedras, contra o barco que se choca no cais que, dentro do bucho dessa nau, os ratos se banqueteiam, fazendo a festa em seus porões e tudo em volta fede.

Primo Ferreira

2 comentários:

Unknown disse...

"(...)e tudo em volta fede."
Ahhh, Recife!
Muito legal tbm

Unknown disse...

Valeu, Edu!