quarta-feira, 20 de agosto de 2008

pequenos pedaços.

Nem tudo que sai da boca reverbera no coração!

Primo Ferreira

pequenos pedaços.

E fica a vontade de ver, de sentir estrelas no céu da boca!

Primo Ferreira

pequenos pedaços.

A paz só é plena se compartilhada, não há paraíso que resista a solidão!

Primo Ferreira

domingo, 17 de agosto de 2008

Um pedaço, meus pés.




Quantos caminhos, quantos desenhos riscados no chão, quantos espinhos e pedregulhos, mas, também, areias quentes e finas, terras molhadas, matos macios e cheirosos, exalando os aromas das várias estradas de onde vim. 

Quantas vezes me fizeram dançar desvairado, enlouquecido, até eles mesmos ficarem doridos de tanto girar e a cabeça lá do alto reclamar de zonza. 

Às vezes tiro-os do chão, deixo-os pendurados um pouco, para descansar o resto do corpo, mas logo eles reclamam e me levam pra passear, me põem pra andar, numa fome das estradas, dos caminhos e ladeiras, numa vida bandoleira sem destino, nem vontade de chegar. 

Não são bonitos, são toscos, rotos, tortos como os de bailarinas, eles não têm solas finas, mas sabem flutuar, me fazer leve, correr, subir em árvores, chutar a bola e fazer gol. 

Quando chega a noite, eles me contam sorrindo que vão me carregar por ai até quando o resto do corpo não aguentar mais em pé.

Meus pés.

Primo Ferreira

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Um pedaço antigo.

Hoje eu começo mais uma coleção, vou colecionar nuvens em formatos engraçados, estrelas cadentes sem destinos traçados, cheiros de flores, do pão fresco, da padaria na esquina da casa da minha avó, das cantigas de roda dos moleques e primos quando a rua ainda não era asfaltada; vou colecionar as lembranças engraçadas, festas e aniversários, as panelas com as sobras dos bolos que eram divididas entre os irmãos, os dedos lambuzados do doce, o brilho no olho que se renovava todo o ano frente às luzes da velha árvore de natal, o cheiro e o choro na noite de Réveillon, a queimadura dos fogos nas festas juninas, as fantasias, confetes e serpentinas dos dias de carnaval; hoje começo mais uma coleção, a mais preciosa, muito mais que os brinquedos, selos, livros, filmes, discos, álbuns de figurinhas e gibis; hoje eu começo minha coleção de velhas lembranças.

Primo Ferreira

domingo, 10 de agosto de 2008

Um vazio que transborda.

Tenho procurado muito, vasculhado dentro da cabeça, entre meus cabelos, no peito, entre minhas pernas, debaixo das unhas, nos meus ouvidos e entranhas, algo pertinente pra dizer, pra escrever aqui nesse espaço e nada encontro. Como é estranho não ter peso, nem densidade o suficiente para parir linhas escritas, alguns dizeres ou historietas, que seja. É assim que eu estou. Que me encontro. Leve e sorridente e cheio de dentes que não cabem dentro da boca, é quase como um vazio, eu estou vazio, um vazio que transborda, que ecoa, uma pausa musical, que ressoa, que não cabe dentro, que não se prende, que não se guarda, que quer se doar, não quer mais doer, latejar. E como nada tenho por hora pra dizer, só me falta sorrir e cantar um samba.

Primo Ferreira