sábado, 10 de maio de 2014

Conquistando os Alpes dos seios.

Ela pôs o dedo na ponta do nariz como se quisesse certificar que ainda estaria lá, com os olhos bem fechados, com toda força e pressão que possuía, na tentativa de reter cada uma das imagens que brotavam violentas e desesperadas dentro si, como um gêiser de sentimentos explodindo, escapando, fervente. Mas ela, por fora, mantinha-se tensa e concentrada, tentando manter o controle, como se já não sentisse os tremores internos. Ela então, não querendo perder mais tempo, começou, com os dedos, a tatear o canto dos olhos, tentando se reconhecer, relembrar, ruga a ruga, cada episódio de sua longa história, os fatos escritos a ferro e fogo em seu rosto. Depois de conquistada a região dos olhos, ela desceu com os dedos pelo canto da boca até chegar no pescoço, lá percebeu a sua pulsação acelerada, tentou com mais força manter a aparência de que tudo estava sob controle. Logo foi descendo, penetrando pelo vale do colo, parou aos pés dos montes de seios, daqueles morros gêmeos e intransponíveis, pensou, calculou, respirou fundo, preparou-se para escalada. Foi subindo lentamente, conquistando cada trecho com cuidado, com segurança e planejamento, tinha a intenção de alcançar o cume, conquistar os picos enrijecidos dos seios, ao chegar lá, vitoriosa, tensa e ofegante, sem fôlego, ar rarefeito, exausta pelo esforço da subida e pela descarga sensitiva que lhe fazia tremer as pernas e as carnes das faces. Nesse instante, ondas ininterruptas de pequenos tremores percorreu-lhe todo o corpo, no momento da conquista, tudo que antes estava sob controle se descontrola, a terra sob os pés treme, abrem-se fendas. O bico do seio, num último ato de resistência, armou-se feito baioneta, furando-lhe a ponta do dedo. Ela, de susto, arregalou os olhos de dor e espanto, percebendo que a ponta do dedo sangrava, que brotava uma única gota vermelha, rubra e densa, como uma rosa solitária em terreno seco e inóspito, na planície estéril e trincada da palma da mão e, nesse mesmo instante, não contendo mais a pressão das entranhas de suas terras profundas, ela se liquefez por completo em lava fervente. 


Primo Ferreira