sexta-feira, 31 de outubro de 2008

um pedaço inevitável

Em meus cabelos flores e toda forma de insetos maravilhosos em minha cabeça, borboletas explodindo em tons cintilantes, centenas de abelhas trabalhadeiras, louva-a-deus elegantes e descrentes na humanidade, em meus dentes restos da ultima refeição que já apodrece na mesa inda posta, em minhas mãos sangue e esperma e dois pares de olhos azuis piscando pra mim, em meus cabelos um odor de incenso e mirra e patchuli, pego-me sorrindo, às vezes sem motivo algum, pego-me noutras com todos os motivos para chorar, mas há chuva e ninguém vai poder ver meus olhos lacrimejar, estou camuflado, estou flutuando, estou estatelado, estou sorrindo com todos os dentes espalhados, meu sorriso a granel no asfalto, não estou mais aqui, eu não estou mais nem ai, eu não tenho nem mais cabelos e meus sonhos todos escaparam, um a um.

Primo Ferreira