Tentei
procurar por aí alguma poesia que tentasse sintetizar o que há entre o meu e o
teu olhar, nada encontrei.
Tudo
parecia tão singelo e sem ar, tudo sem sal e sem paladar, sem profundidade pra
se mergulhar, desisti.
Busquei
aqui e acolá, busquei nos livros encaixotados, busquei escondidos nas nuvens de
mentira da internet, insisti.
Tentei
burlar, copiar, recortar, sintetizar, editar trechos de poesias espalhadas,
poemas em pedaços, na ideia de criar uma epopeia única, em vão,
Ficou
tão bizarra minha cria, um monstro óbvio e sem alma no olhar, sem documento, que
antes mesmo de nascer o rebento preferi abortar,
Gastei
tempo, pensamento, gastei meus olhos na busca de uma frase de efeito que fosse,
um pensamento que nos sintetizasse, uma foto poesia, um autorretrato literário,
catando letras, formando palavras, construindo frases como um ourives solitário.
Até
que num surto de desespero percebi minha perda de tempo, a besteira que fazia,
buscar fora o que dentro já nascia, já brotava, já floria em meu peito,
Bastava
colher a flores selvagens, juntar e enrolar num papel de embrulho, formar meu
buquê, meu pobre ramalhete sem luxo, sem pompa nem rodeios,
Nele
não encontrais as rosas orgulhosas ou as misteriosas orquídeas, nem a beleza
pura das flores do campo, nem das simples margaridas, não insista,
Neste
ramalhete que te fiz só há as flores que nascem sem pedir licença, nos
acostamentos e terrenos baldios, entre as rachaduras do asfalto das cidades,
Meu
poema é bruto, simples e insistente, quase sem aroma, mas tem a força de uma
verdade de um olhar, do teu, do meu, e do inevitável encontro,
Que
abre espaço na brutalidade desoladora da cidade, que aproveita todos os espaços
e as oportunidades pra simplesmente florir,
Pra
quem souber apreciar, pra ninguém e pra todos os olhares,
Meu
poema é bruto e sincero como as flores que insistem em salpicar de cores teu
caminhar.
Primo Ferreira.
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