segunda-feira, 2 de maio de 2016

Consumo de energia.

Acendi a lâmpada incandescente do meu incômodo, a claridade toca-me a retina e o calor na pele; tento encostar com a ponta do dedo a superfície luminescente onde mariposas dançam em rodopios, fazendo arabescos no ar, movimentos circulares enlouquecidos ao redor do lume, feito bruxas num Sabat sagrado e profano ao redor da fogueira. Expus minha face à luz artificial pois já era noite ou já era dia, não sei, já que o dia que nunca conseguia se achegar ao meu recanto. Apesar de tudo sinto-me com sorte, por sentir o que eu agora sentia, por sentir agora que algo sentia, por isto aqui no peito que agora me brota e me movia, me fazendo deslocar, me tirando de uma antiga letargia. O que eu queria agora era só deitar e adormecer, mas não podia, pois tudo doía, dos fios dos cabelos até os ossos dos pés, cada falange, cada falangeta, toda palma grossa da sola do membro exposto ao solo; os olhos ardiam com toda esta claridade de agora, claridade que me revela, que me ardia para além das retinas, esta luz amarela e cruel, que tudo mostrava, desvelava, cada recanto deste cômodo sem espelhos, onde, apesar de tanta luz, não havia nenhuma superfície refletora onde se pudesse se mirar a face, olhar direto nos olhos, este lugar que de tão claro cegava, nada se enxergava direito a frente do nariz, nem o amor, nem o ódio, só a melancolia se sentia, além de uma solidão que se agigantava ao redor, ia entupindo tudo feito areia na ampulheta do tempo, entrando pelas narinas e tapando a garganta, causando um sufocamento. Percebo que algo de novo acontecia no aposento, não entendo no exato momento em que acontecia, então apago a lâmpada pra poder ver melhor, entender melhor o que eu sentia, era como uma ausência que ia ocupando todo o recinto, era como uma agonia que ia e vinha, como uma respiração ofegante, era um deslocamento de ar que mal na pele se notava, era algo que não havia, mas lá estava, parada no canto do cômodo, eu notava seu olhar fixo em mim, sentia seu cheiro que subia, não sei se de jasmim ou alfazema, sei que de flor de alguma coisa, sei que algum aroma eu sentia, acendi a lâmpada por precaução, pra não correr nenhum risco, pra não ser pego de surpresa, no susto, ponho-me em alerta, esperando alguma investida de alguma coisa, de algum lugar, de alguém que não sei quem, nem se viria, talvez aquilo ou aquele só estivesse de passagem, por curiosidade, não dava pra saber, mas fico tenso, assim permaneço por algum momento, mas fui ficando logo cansado, nada acontecia, nem eu me mexia, nem nada ou ninguém ao meu lado, então pensei que fosse delírio ou já tinha adormecido e sonhava, ou era então imaginação da minha cabeça, que faz tempo que doía, que me fazia crer em um monte de coisas estranhas, besteiras, essa cabeça minha que não parava, pensava tanto que não me deixava adormecer na hora certa, cabeça dos infernos, cabeça de doido, só refletia e esquentava os miolos, parecia que tudo dentro dela ascendia, e deixava tudo tão claro que doida, feito lâmpada incandescente perto dos olhos, atraindo mariposas em noites de um silêncio ensurdecedor, mesmo durante o dia quando nem luz do sol luzia aqui dentro deste aposento, em que a claridade não passava nem se espremesse pelas frestas, por trás das persianas, só os pensamentos que chegavam aos bandos na cabeça, fazendo-a esquentar, flamejar, consumindo minha energia!     

Primo Ferreira.

2 comentários:

Unknown disse...

Confuso e sufocante.
Jogos de palavras conflituosas.

Unknown disse...

Concordo que este texto seja confuso, mas quero entender mais sobre sua opinião!