domingo, 17 de agosto de 2008

Um pedaço, meus pés.




Quantos caminhos, quantos desenhos riscados no chão, quantos espinhos e pedregulhos, mas, também, areias quentes e finas, terras molhadas, matos macios e cheirosos, exalando os aromas das várias estradas de onde vim. 

Quantas vezes me fizeram dançar desvairado, enlouquecido, até eles mesmos ficarem doridos de tanto girar e a cabeça lá do alto reclamar de zonza. 

Às vezes tiro-os do chão, deixo-os pendurados um pouco, para descansar o resto do corpo, mas logo eles reclamam e me levam pra passear, me põem pra andar, numa fome das estradas, dos caminhos e ladeiras, numa vida bandoleira sem destino, nem vontade de chegar. 

Não são bonitos, são toscos, rotos, tortos como os de bailarinas, eles não têm solas finas, mas sabem flutuar, me fazer leve, correr, subir em árvores, chutar a bola e fazer gol. 

Quando chega a noite, eles me contam sorrindo que vão me carregar por ai até quando o resto do corpo não aguentar mais em pé.

Meus pés.

Primo Ferreira

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