terça-feira, 4 de novembro de 2008

um pedaço de mar.


Desde eu muito menino que gosto de chegar na praia e enterrar meus pés na areia quente até sentir a umidade lamber as plantas dos meus pés, passo horas assim, até meu pé enrugar; antes gostava de boiar com a cabeça dentro d’água até não mais aguentar ficar sem respirar, sempre que isso fazia, conseguia ouvir um zunido vindo do mais profundo mar azul esverdeado, talvez de baleias, ou sereias, ou de conchas e moluscos, ou golfinhos, algas marinhas, nunca soube ao certo; gostava de nadar, hoje tenho medo, muito medo de morrer engolido pelo boca enorme do mar, sugado pela saliva salgada das ondas, levado pra sempre pro infinito verde azulado e profundo do mar; pois nasci laçado, e meu nome de pia não é Maria e nem José, dizem as boas e más línguas que quem assim nasce, assim morre, teria que ser José Maria, ou Maria José para assim não morrer; por isso, desde algum tempo que prefiro manter meus pés sempre assim, quentes e úmidos, enterrados na areia da praia, mas nunca mais consegui ouvir as baleias e as conchas cantando, maldito mar que me mete medo, oferecendo-me o peito, chamando-me sedutor, como a aranha na teia, como o canto das sereias, não sei até quando vou resistir.

Primo Ferreira

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